março 17, 2015

Curitiba, 1984: 30 mil pela democracia. 2015: 30 mil pela… ditadura?


As fotos do calçadão da rua XV de novembro cheia são lindas. No domingo à tarde, milhares de pessoas foram à rua exercer seu direito de se manifestar. Foram protestar contra a corrupção e à favor da democracia.
Mas será? Curitiba teve cerca de 80 mil pessoas na rua, foi a quarta maior manifestação do país (http://goo.gl/wzwGDQ). E a parte que eu ainda não entendi, foram 30 mil, chutando para baixo, que são a favor de uma "intervenção militar". Oi?
63% dos 80 mil tinha ensino superior (http://goo.gl/HgdVvW). E se os 46% a favor do golpe fazem parte desses 63%? A coisa fica ainda mais feia.

Mas a pior ironia é essa:
Em 1984, depois de 20 anos de escuridão e violação democrática no país, os grandes protestos para eleição direta para presidente começaram aqui, Curitiba foi a pioneira (http://goo.gl/Vbt8co). Algumas contas dizem que havia 30 mil pessoas na rua em 12 de janeiro de 1984.
30 mil pessoas estavam lá levantando seus cartazes para que pudessem se manifestar e que pudessem escolher seu próprio governante. 31 anos depois, 30 mil pessoas estavam no mesmo lugar, levantando cartazes, ou pelo menos favoráveis à ideia de… não poder mais se manifestar e não poder mais escolher o seu presidente?
Qual é a lógica em alguém que levanta um cartaz para que se proíba o direito de se levantar cartazes?
Em 2013 eu custei a entender as pessoas irem às ruas sem uma pauta bem específica. No domingo, eu custei um pouco a achar legal as pessoas irem às ruas mesmo sem terem as motivações mais corretas. "Legal, elas estão indo exercer seu direito, pressionar por um país melhor, mesmo que eu tenha minhas ressalvas". Legal esse negócio de ir protestar sem se preocupar muito com as motivações. Mas deu, né? Sim, você precisa protestar por motivos justos e legítimos, não por qualquer coisa.
Pra quem não entendeu, protestar contra o presidente é legítimo. Defender “intervenção militar” de qualquer gênero ou temporalidade é um CRIME (http://goo.gl/3yYYs6). No Brasil, você não tem o direito de protestar pela proibição do direito de protestar. Além de uma burrice incoerente, é crime.
Pode parecer bunda-mole, mas estou começando a achar que a apatia política não é o pior dos casos. Se for pra você defender o indefensável, eu prefiro que fique em casa. Se não souber brincar, prefiro que não brinque.
Opa, é justamente o problema. Tem gente achando que é brincadeira. Que na rua vale qualquer coisa. Que contra o PT, vale qualquer coisa ("Já estamos numa ditura, não?" "Crime é o PT no poder") Que no calor do momento vale qualquer grito, qualquer placa. Que vale levantar boneco de pessoas decapitadas. Que vale me alinhar com qualquer tipo de pessoa só porque temos um inimigo em comum.
Não, não é assim. Não é vale tudo. Quem foi às ruas deve ter sentido uma ótima sensação de que tem poder, de que suas atitudes tem influência no país; alguns sabem que, por mais que um impeachment seja improvável, o seu protesto na rua pode desestabilizar a presidente, influenciar o clima político do país. Da mesma forma, se os protestos começarem a abraçar ideias antidemocráticas, fascistas, preconceituosas ou violentas de qualquer tipo, isso pode SIM começar a estragar o clima político do país. Pode criar um perigoso clima fértil pra atrair vozes bonitas com discursos de ódio, disfarçados de salvadores da pátria. Já que a nossa história a gente não estuda, você pelo menos lembra de um bigodinho que era um grande orador, né? Acho que nenhum golpe começa sem ter um clima político favorável, com pessoas abraçando qualquer discurso pra se livrar de uma suposta "ameaça iminente".
Espero que não caiamos nessa. E que comecemos a nos preocupar com os motivos. Com qualidade da informação que estamos engolindo, e se estamos de fato entendendo as coisas da maneira mais correta e lúcida possível. (46% eram a favor de uma "intervenção militar provisória, mas só 15% eram a favor da "volta da ditadura". Quem respondeu as perguntas entende a diferença? Ou sabe pelo menos que as duas opções são inaceitáveis? Pior ainda, achamos pouco 15% a favor da volta da ditadura?)
Entender ou não é crucial, deveríamos ocupar mais do nosso tempo com isso. Ir pra rua não exige mais do que duas pernas e uma passagem de ônibus.

Pessoas passaram 15, 20 anos lutando contra um governo que não as ouvia e nem as considerava. Muitas delas MORRERAM na mão do mesmo governo. Morreram pra que você tivesse o direito de sair na rua num domingo de sol ou qualquer dia que quiser, pra protestar sobre o que quiser. Opa, não qualquer coisa. Você já entendeu.

Antes de sair de casa, se informe.

E se não tiver um bom motivo, não saia.


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Fonte da pesquisa: Paraná Pesquisas. http://goo.gl/HgdVvW

outubro 27, 2014

Dia de decidir não mudar de país

Ah, a segunda-feira do dia 27 de outubro.
Dia de fazer as pazes.
Dia de parar de comprar briga com quem você nem conversa e passou a odiar por causa de um candidato meia-boca em quem você nem acreditava muito ou nem acompanhava até assumi-lo como paixão da sua vida (da última semana).

Dia de se arrepender dos exageros que você publicou, dos comentários raivosos, da arrogância e da prepotência em achar que a sua opinião ou o seu voto vale mais do que o de alguém, qualquer que seja. Hora de rever se a opinião de quem ganha menos, estudou menos, mora menos, qualquercoisa menos (ou mais) tem menos direito de ser dita do que a sua. Hora de ser humilde e reconhecer que o candidato que você não escolheu também vai ser seu presidente, ou de reconhecer que o candidato que você escolheu ganhou, mas vai precisar que você continue a analisá-lo, cobrá-lo e ajudá-lo a governar e melhorar o país.

Hora de decidir ler mais jornais e mais opiniões diferentes das suas; menos imagens de facebook e menos capas de revista.

Hora de aceitar o resultado das urnas (imperfeito, mas o melhor instrumento da melhor forma de governo que tem por aí) sem falar que houve fraude ou compra de votos. Hora de parar de se achar superior aos 51% ou 49% que pensam diferente de você e xingá-los por conta disso (da próxima vez, talvez seja mais eficiente tentar convencê-los com bons argumentos. aliás, quando você convenceu alguém após chamá-lo de idiota?)

Hoje é dia de decidir não mudar DE país, de decidir melhorá-lo, de mudar O país. O país precisa da sua oposição, se for esse o caso; mas precisa de uma boa oposição, ninguém precisa da sua arrogância.

Hoje é dia de repensar o seu pensamento que antidemocrático e extremamente nocivo de que o voto que não é igual ao seu é errado, burro, não vale, ou "merece o país que tem".

Que tal começar se desculpando hoje com as pessoas que você ofendeu?

outubro 24, 2012

Novelas? Blargh!


Aproveito o comentário que fiz em uma discussão pra refletir sobre os motivos por que ser contra (ou a favor) das novelas:

Entendo a motivação mais comum, e concordo: sim, a tevê é responsável por disseminar muitos valores incorretos que muitas vezes acabamos incorporando, e sim, nós como cristãos temos que ser diferentes e nos posicionarmos contra tudo isso. Por outro lado, escolher um tipo de entretenimento pra proibir, acho questionável. Como ser contra "novelas", por exemplo.
Qual é nosso argumento?

1. É porque possui cenas que mostram atitudes incorretas, personagens com valores errados, fazendo coisas que não concordamos? O último filme que você foi ver no cinema não tinha a mesma coisa? O seriado que você assiste não tem o mesmo conteúdo? O gibi que você lê, ou lia na adolescência, não tem as mesmas traições, adultérios, roubos, mortes, sensualidade, violência, desrespeito a pai e mãe, mentiras, destruição de famílias, …,? Ou esses outros produtos são inofensivos porque são em inglês, produzidos por alguém famoso e tem uma cara mais cult, modernosa? A música que eu estou cantando ou dançando não faz apologia a traição e não banaliza os relacionamentos saudáveis que Deus aprova? Ou essa música também está em inglês e não tem problema, porque "só tô curtindo o som"? A lascívia de uma novela é pior que a de Jorge Amado? A violência de uma novela (se houver), é pior do que a violência gratuita de Jogos Mortais, Laranja Mecânica, Sin City, Counter-Strike? As curvas da Isis Valverde são menos cinematográficas do que as da Angelina Jolie? O conteúdo espírita de uma novela são mais graves que as experiências sobrenaturais dos filmes de terror e exorcismo? Os distúrbios de relacionamento e os valores errados de uma novela são piores do que aqueles na obra do gênio Woody Allen, ou de tantos outros grandes da literatura, cinema, poesia, pintura? Porque um pode e o outro não?

2. Ou no fundo somos contra porque é popular? "Fez muito sucesso, logo deve estar errado"; "é da Globo, é lixo". Tem linguagem chula? Mostra o lado "devasso" do povo brasileiro? Frases como "lá fora é que tem cultura de verdade" não fazem sentido. Achar que a sociedade brasileira é pior que as outras é muita ingenuidade. O Brasil é muito rico em sua cultura, e as novelas, boas ou ruins, tem sido uma forma de transmitir e preservar isso, além de ser um meio muito acessível. Imagino que quem estuda cinema deve reconhecer nas novelas um valor artístico muito grande, pois são construídas de uma forma bem peculiar em questão de roteiro, cenas, linguagem, que cumpre com sucesso a tarefa de manter as pessoas interessadas em uma história que acontece diariamente. Poucos conseguem fazer isso. Tanto é, que as nossas novelas são exportadas pra tudo que é lugar. Então, se somos contra a novela porque é artisticamente pobre, temos que escolher outro argumento. Porque filme, série, livro, gibi, música seriam formas "dignas" de entretenimento e a novela não? É mais um formato de contar história, como todos os outros.

3. Não vim defender a novela, só defendo que a gente avalie os conteúdos pra separar o bom do ruim, e não empacote um gênero inteiro como proibido, simplesmente "porque sim". Se for assim, é como dizer "não escute música", ao invés de "não escute música inadequada". Pessoalmente, não assisto novela porque não sou muito fã de tv em geral (tá bom, confesso, assisti Luz Clarita ¬¬), mas penso que existam novelas boas e ruins, com conteúdos adequados e inadequados. Como cristãos, temos que ser bons filtros pra separar aquilo que nos alimenta; e de preferência, devemos usar a mesma régua para medir todas as coisas. Por isso me preocupo com o "argumento".

4. (Esse é só pra polemizar :P) Será que tudo o que eu vejo se torna parte de mim? O fato de eu assistir alguém mentindo me dá vontade de mentir, ou faz a mentira se tornar menos grave e mais natural? Se sim, então devo parar. Preciso investigar meu coração pra saber minhas reais motivações. E não adianta tentar enganar a mim mesmo: "Ai, estou assistindo esse reality-show só pra analisar o comportamento das pessoas"; é isso mesmo? Concordo, tem coisas em si que não tem conteúdo construtivo nenhum e em nada edificam. Pra essas coisas é melhor ir lá fora ver a grama crescer. Mas e o que fica no meio termo? Será que eu ver uma cena de um crime, onde pessoas são mortas após o mocinho cometer um adultério, é a mesma coisa do que eu ver um filme de violência explícita por 1h? Eu gosto muito de filmes, principalmente os de não-ficção, dramas, filmes com bastante diálogo, e bastante vida real. E normalmente, pra uma história ser boa, aquela que te mantém sentado por duas horas, ela tem algum problema, um conflito a ser resolvido. E muitas delas (todas?) envolvem vários pecados ou fraquezas humanas no decorrer do filme. Fico imaginando como seria relatar uma história sobre humanos, sem que aparecesse alguma podridão. (a bíblia mesmo tem histórias mais cabeludas e terríveis do que as de muito filme por aí). Como fazemos? Deixamos de ver e participar de tudo que contenha "o mal"? Poderemos sair na rua? Essas coisas não estão só nos filmes. Aí a pergunta é mais complexa. Não sei a resposta. Acho que temos que estar sempre filtrando, e pensando: isso é um bom alimento? Paulo foi muito sábio falando sobre nossa liberdade: "…nem tudo me convém". Mas, como tudo que não tem regras definidas, deixa as coisas mais difíceis. Temos que pensar mais pra saber o que pode e o que não :)



RESUMO:
- "Não assista novela porque você poderia estar lendo a bíblia ou visitando alguém ou doando sangue". OK
- "Não assista novela porque sua família precisa de mais papo e menos tevê". Ótimo.
- "Não assista novela porque tem traição". Tudo bem, mas seja consistente e se prepare para sair do cinema quando ocorrer a mesma situação, ou para largar o seriado ou livro que você tanto gosta, mas que tem os mesmos conceitos errados, travestidos numa forma mais "culta" ou "artística".

Temos que ensinar nossas crianças e jovens a crescer sabendo analisar as coisas e discernir entre o que é bom ou ruim, e porquê. Não adianta ser contra determinada coisa, simplesmente. "Não veja isso", "Não leia esse livro", "Não vote naquele partido", … acaba sendo muito simplista, principalmente porque a sociedade está cada vez mais complexa, e se queremos nos comunicar com ela, temos que fazer análises menos superficiais. Do contrário, vamos cultivar pessoas que, não convencidas pelo "não pode", fazem todas essas coisas "proibidas" e vão continuar fazendo, mas em silêncio (não vão contar na nossa frente), porque eliminamos o diálogo ao dizermos "Não" sem argumentos consistentes ou que não se reflete com coerência nas nossas atitudes. E um jovem (adulto?, adolescente?) que faz/não faz determinada coisa e não tem convicções ou fundamentos consistentes do porquê, está pronto para cair na primeira confrontação.

setembro 18, 2012

Grandes egos

Se algum dia você se der conta de que tem alta rotatividade de funcionários, subordinados, liderados, amigos, pessoas no seu convívio, …, talvez seja a hora de parar de achar que o problema são os outros.

Egos ambulantes se disfarçam nas "boas características" de exigente, preciosista, perfeccionista, alto-padrão-de-qualidade, ...